Por: Dr Drauzio Varella
Os antigos pensavam que o órgão central da circulação seria o fígado, porque nas autópsias encontravam grande quantidade de sangue em seu interior. Imaginavam que as veias levariam o sangue do fígado para a periferia e que o ar da respiração seria conduzido pelas artérias (daí o nome) para refrigerar os órgãos internos.
Hoje sabemos que o coração é um músculo com quatro cavidades que funcionam como bomba hidráulica. Quando se dilatam ficam cheias de sangue; ao contraírem-se, pressionam o sangue venoso para os pulmões e o sangue já oxigenado através das artérias, com a finalidade de distribuir oxigênio e nutrientes para todos os tecidos.
A bomba cardíaca trabalha sem parar: em seu interior passam 5 a 6 litros de sangue por minuto.
O sistema circulatório é fechado: o sangue impulsionado pelo coração para percorrer as artérias voltará pelas veias. É como no encanamento de uma casa na qual a água da caixa fosse impulsionada por uma bomba e, depois de utilizada, passasse por um filtro e retornasse para ser bombeada de novo.
A pressão arterial é conseqüência da força que o sangue faz contra as paredes das artérias para conseguir circular pelo sistema.
Se o sangue saísse do coração sem pressão nenhuma, não teria condições de circular e morreríamos em poucos minutos por falta de oxigênio nos tecidos.
O organismo é muito sensível a aumentos de pressão. Se o sangue for bombeado constantemente sob pressão mais alta, vários órgãos entrarão em sofrimento. Em situações extremas, quando acontecem aumentos bruscos de pressão, pode haver colapso do sistema e morte súbita.
Quando o coração se contrai (sístole) para expulsar o sangue de seu interior, a pressão nas artérias atinge o valor máximo: é a pressão máxima ou sistólica. Quando sua musculatura relaxa (diástole) para permitir que o sangue volte para encher suas cavidades, a pressão cai para valores mínimos: é a pressão mínima ou diástólica.
Com o aparelho, procuramos medir esses dois níveis de pressão - máximo e mínimo - em centímetros ou milímetros de mercúrio. Assim, quando dizemos que uma pessoa apresenta pressão de 12 cm por 8 cm (o mesmo que 120 mm por 80 mm), queremos explicar que o coração, ao bater na sístole, impulsiona o sangue pelas artérias com pressão igual à exercida por 12 cm (ou 120 mm) de uma coluna de mercúrio; e, que, na diástole, ao relaxar a musculatura cardíaca, a pressão arterial cai para 8 cm (ou 80 mm).
A pressão arterial não é constante no decorrer do dia: em repouso ou dormindo, com os vasos relaxados, ela tende a cair; e a subir quando fazemos esforço físico, estamos agitados, nervosos ou submetidos a condições de estresse.
Por isso, é muito importante que a pressão seja medida com aparelho aferido regularmente, que o manguito seja inflado devagar e que seja adequado ao diâmetro do braço. Por exemplo, crianças precisam medir a pressão com manguitos menores e pacientes obesos, com manguitos mais largos para evitar erros de medida.
Além desses, é preciso tomar os seguintes cuidados ao medir a pressão, para evitar a chamada síndrome do avental branco, responsável pelo aumento dos níveis por causa da tensão que a presença do médico e o ambiente podem ocasionar:
* Você deve estar sentado e o aparelho ajustado em seu braço à altura do coração. Não falar, e descansar de 5 a 10 minutos em ambiente calmo, antes de efetuar a medida;
* Você não deve ter praticado exercício ou realizado esforço físico nos últimos 60 a 90 minutos;
* Você não deve ter ingerido bebidas alcoólicas, alimentos ou fumado nos últimos trinta minutos;
* Você não deve estar com a bexiga cheia nem com as pernas cruzadas.
Quando os valores obtidos estiverem elevados, a pressão deverá ser medida 1 a 2 minutos mais tarde. Se permanecerem elevados, o ideal é medi-la novamente em ambiente doméstico.
É preciso muita cautela antes de rotular uma pessoa como hipertensa.
Nos adultos com pelo 18 anos, a pressão arterial pode ser classificada de acordo com os critérios internacionais ordenados na tabela abaixo:
Classificação Pressão máxima (cm) Pressão mínima (cm)
Ótima < 12,0 - e - < 8,0
Normal < 13,0 - e - < 8,5
Limítrofe 13,0 a 13,9 - ou - 8,5 a 8,9
Hipertensão
Estágio 1 (leve) 14,0 – 15,9 - ou - 9,0 – 9,9
Estágio 2 (moderada) 16,0 – 17,9 - ou - 10,0 – 10,9
Estágio 3 (grave) 18,0 ou mais - ou - 11,0 ou mais
De acordo com o Ministério da Saúde, em nosso país existem 43 milhões de hipertensos, assim distribuídos de acordo com a faixa etária:
* Cerca de 30% dos adultos;
* 50% da população acima de 50 anos;
* 60% da população acima de 60 anos.
A hipertensão é doença democrática que se instala em crianças, mulheres e homens de todas as etnias e condições sociais. Por razões genéticas, mulheres e homens negros correm mais risco de desenvolvê-la.
Aumentos de peso e de pressão arterial caminham de mãos dadas. As diminuições também: nos hipertensos, para cada 1 kg perdido a pressão cai em média 1,3 mm a 1,6 mm.
Existe relação nítida entre peso corpóreo e pressão alta. A obesidade provoca alterações no metabolismo que contribuem para fazer as terminações nervosas, que controlam a abertura e o fechamento dos vasos (vasodilatação e vasoconstricção), manterem os vasos mais contraídos. Para vencer a resistência aumentada à passagem do sangue, o coração é obrigado a fazer mais força, que se reflete no aumento da pressão arterial.
Assim, uma pessoa obesa que tenha pressão 15 por 10 - hipertensão estágio 1 -, ao perder 10 quilos, terá a pressão diminuída para aproximadamente 13,5 por 8,5, faixa considerada limítrofe. Se perder 20 quilos, sua pressão voltará ao normal.
A perda de peso constitui a medida não farmacológica mais eficaz no tratamento da hipertensão. Ela também aumenta a eficácia dos medicamentos anti-hipertensivos em indivíduos obesos ou não.
Hipertensão arterial é doença traiçoeira, só provoca sintomas em fases muito avançadas ou quando ocorre aumento abrupto e exagerado.
Muitas pessoas acreditam que o aumento da pressão provoque sintomas como tontura, dor de cabeça, palpitações ou pontos brilhantes que turvam a visão e, como nada sentem, passam anos sem medir a pressão. Não é verdade que esses sintomas tenham alguma coisa a ver com a pressão. A única forma de fazer o diagnóstico de hipertensão é medir a pressão arterial.
Quanto mais cedo for diagnosticada, melhor o resultado do tratamento. O ideal é que a pressão seja medida a partir do primeiro ano de vida, nas consultas pediátricas.
Nos adultos com pressão de até 12 por 8, basta medi-la uma vez por ano. Entre esse valor e 14 por 9, uma vez a cada 6 meses. Acima de 14 por 9, os controles devem ser muito mais freqüentes, porque nessa faixa a doença deve obrigatoriamente ser tratada.
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