Por: Valéria Fátima da Rocha
Psicóloga
CRP 90646/06
A compreensão da Depressão sob a Ótica Social, Emocional e da Psicoterapia Existencial
Passando na banca de jornal fui logo à sessão de revistas para ver os assuntos interessantes, especialmente, voltados à filosofia e psicologia. Logo de cara avistei O Lado bom da Depressão e parti contente para casa formulando este assunto para discutir com vocês.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), em todo planeta 121 milhões sofrem de depressão e 17 milhões de no Brasil. São dados alarmantes e não é a toa que a depressão ganhou maior destaque e constitui a doença do século 21.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), em todo planeta 121 milhões sofrem de depressão e 17 milhões de no Brasil. São dados alarmantes e não é a toa que a depressão ganhou maior destaque e constitui a doença do século 21.
Ouvir alguém dizer que está com depressão é tão comum quanto ouvir que está com forte resfriado, não estou banalizando o assunto, pelo contrário, na clínica vemos diversos casos severos de depressão, muitas vezes, mascarada por doenças psicossomáticas ou motivadas por outros transtornos mentais e comportamentais. É interessante notar que ao passar dos anos a doença deixou de ser estigmatizada, mas o preconceito perdura nos quadros mais severos ou nos transtornos mentais.
Muitas barreiras foram quebradas quando a depressão deixou de ser um tabu, isso possibilitou a busca de ajuda logo nos primeiros sinais da doença, porém, como tudo tem o seu lado bom e ruim, a depressão passou a ser a resposta para todos os sofrimentos existenciais, muitas vezes, pelo atalho dos antidepressivos e ansiolíticos que mais servem para calar os conflitos, as inquietações e frustrações.
Não sou contra a medicação, os antidepressivos disponíveis no mercado tem se mostrado importantes nas crises agudas, em alguns casos no acompanhamento e progressão da doença, mas não são via de mão única e não podem servir de pretexto para inescrupulosos profissionais venderem a cura por meio de milagrosos remédios engordando as contas da indústria farmacêutica. É preciso tratar a febre alta, entretanto, não podemos ignorar o que a desencadeou.
A psicanalista, Maria Rita Kehl , afirma que a depressão é um sintoma social e vem aumentando na mesma velocidade que vivemos o tempo, essa urgência “temporal” faz com que a vida perdesse o valor. Ela atribui o capitalismo como o senhor dessas exigências, pois a sociedade contemporânea é atropelada pelo imperativo do consumo e pela busca desesperada pela felicidade. De fato, a ideologia, segundo está autora, está implícita nas mensagens – não tente curar suas dores pela reflexão, não dê o tempo que o luto precise ou recuperar-se das quedas, perdas e crises, mas tome remédio e toque em frente.
Segundo esta mesma autora, se você não tem dinheiro como valor de troca, passou por experiências traumáticas, não tem o reconhecimento merecido pelos pais, amigos e cônjuge, não está no emprego desejado, não viveu todas as ilusões e expectativas esperadas, atravessa por dificuldades de saúde e financeiras, vivencia o luto pela perda de alguém importante, então, facilmente conseguirá um passaporte de deprimido e uma receita de antidepressivos.
Para completar esta linha de raciocínio podemos vasculhar na web; sites, artigos, revistas, livros e encontraremos vasta conceituação, diagnósticos, investimentos em pesquisas biológicas e genéticas para compreender o funcionamento do cérebro e medicações mais potentes. Contudo, não há o mesmo empenho em novas formas de tratamento psicoterápico. Tudo isso, porque vivemos numa sociedade mecanicista e capitalista, o sujeito é moldado para executar tarefas como se fosse parte de uma grande engrenagem, falhar é inadmissível! E não é diferente no campo psíquico, se houver qualquer desequilíbrio, este mesmo sujeito é passível de ajuste e cura, mas enquanto isso permanecerá à margem, deslocado e isolado na sua dor.
Para completar esta linha de raciocínio podemos vasculhar na web; sites, artigos, revistas, livros e encontraremos vasta conceituação, diagnósticos, investimentos em pesquisas biológicas e genéticas para compreender o funcionamento do cérebro e medicações mais potentes. Contudo, não há o mesmo empenho em novas formas de tratamento psicoterápico. Tudo isso, porque vivemos numa sociedade mecanicista e capitalista, o sujeito é moldado para executar tarefas como se fosse parte de uma grande engrenagem, falhar é inadmissível! E não é diferente no campo psíquico, se houver qualquer desequilíbrio, este mesmo sujeito é passível de ajuste e cura, mas enquanto isso permanecerá à margem, deslocado e isolado na sua dor.
Mas vamos lá, proponho a continuidade desta discussão com a vertente da psicoterapia existencial e as possibilidades de sair deste lugar invadido pela dor e desespero, mas que também, pode ser um grande manancial de crescimento humano. O que é inadmissível são fantasmas que andam e falam, embotados nas relações sociais e na expressão de sentimentos e emoções.
Na depressão a existência fica confinada a intensos sofrimentos, os pacientes reclamam da inutilidade da vida, carregam culpa e tristeza excessiva, o humor fica deprimido, não há energia, motivação, diminui a libido, não veem sentido na vida, sentem um peso enorme nas costas, mas não consegue tirar da “mala” o desnecessário que carregam. Por isso, a idealização da morte promove certo alívio, porém é mais para escapar desta dor do que dar cabo da própria vida.
Quem está de fora até tenta ajudar, contudo nada pior do que certos conselhos, muitos, extraídos de livros de autoajuda “pense positivo que isso logo passará”, ou “veja a sua volta você está melhor do que aquele que moram debaixo do viaduto!”. São alguns exemplos que perpetua o sentimento de incompreensão e o desejo de isolar-se de tudo e de todos.
Alguns recorrem a substâncias psicoativas como drogas e bebidas alcoólicas, excesso de comida, consumo desenfreado, jogos, sexo sem proteção e qualidade, ruminações obsessivas, mas estes paliativos ajudam a transitar pela sociedade, porém, o custo é muito alto, pois a doença tende a piorar.
Andrews (2010) argumenta que a depressão pode não ser uma doença, mas uma adaptação as instabilidades da vida, pois nos estágios reflexivos e no isolamento, a mente fica mais concentrada e pode ser altamente produtiva na resolução dos problemas porque estará determinada a resolvê-los. Em outras palavras, o que chamamos de depressão pode ser a maneira que encontramos para expressar nossos problemas internos, sociais e lidar com as vulnerabilidades da existência.
May (1993) afirma que é preciso compreender a função da doença e da saúde numa cultura, ele acredita que o processo da doença leva o indivíduo a avaliar e reformular o estilo de vida.
Mas adiante diz que a doença é usada da mesma forma que gerações passadas usavam o demônio – como um objeto em que projetam suas experiências odiadas, a fim de evitar a necessidade de assumir a responsabilidade por elas. Mas além de proporcionar um senso de liberdade temporário desse sentimento de culpa, essas ilusões não ajudam. Saúde e doença são parte e parcela de nosso processo contínuo pela vida e nos tornarmos adequados ao mundo e o mundo adequado a nós.
A depressão pode ser um sensibilizador, mas quando se foge da dor e dos conflitos se perde a vitalidade, a capacidade de sentir e amar. Enquanto, apenas enxergarmos dois lados, vítimas e algozes de um destino cruel, não nos perceberemos autores desta existência e haverão poucos incentivos para ir além dela realidade. Como já dizia Sartre, O inferno são os outros.
Ainda pelo viés da psicoterapia existencial, a vida pode ser colorida, mas pode ser cinza, é ambígua e repleta de dilemas que podemos aprendendo a lidar. Só saberei o sabor do amargo, porque provei do doce, sofrerei uma desilusão afetiva e amorosa, porque ousei entregar-me ao amor, distinguirei o frio, porque já me senti aquecida, apreciarei a verdadeira amizade, porque sofri com a solidão, valorizarei a luz, porque já fiquei no escuro, e assim por diante.
Desde que fomos lançados ao mundo vivemos todos os tipos de mazelas e fenômenos inerentes a nossa vontade sem que diretamente exerçamos controle. Entretanto, não vamos sair culpando o mundo, as circunstâncias ou a si mesmo. O caminho é se perguntar como e o que posso mudar a partir da realidade atual. Qual é a minha parcela de responsabilidade? Até quando ficarei no papel de vítima das circunstâncias? Qual é a recompensa para me manter em tal situação?
O processo terapêutico começa quando abandonamos os papéis, o conformismo, a renúncia das falsas esperanças, racionalizações, remoção de idéias superficiais e equivocadas de prazer e felicidade eterna, ou na pior das hipóteses, quando chegamos ao fundo do poço. Neste lugar não há outra saída a não ser entregar-se ao desconhecido de nós mesmos, então, podemos nos reconstruir e descobrir novas possibilidades, capacidades e o sentido para a vida. Isso se constituirá é o início da liberdade autêntica.
Acredito que não há receita mágica para a depressão, as discussões tiveram o intuito de fomentar a compreensão e novas formas de enxergá-la. Contudo, se para você é muito importante saber maiores informações da nosologia, enquadramentos descritivos, desenvolvimento, causas, pensamentos e outros tratamentos, terá a oportunidade de pesquisar em muitos sites, livros disponíveis no mercado e nos grupos de apoio como Neuróticos Anônimos e afins.
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